Turismo cubano: seguro e em ascensão

25/03/2018 00:55
O turismo de cidade está entre as modalidades a serem consolidadas. Foto: Juvenal Balán

CUBA foi açoitada, há menos de seis meses, por um furacão que afetou consideravelmente quatro dos principais destinos turísticos da Ilha. É a única nação insular do mundo onde, por lei, os estadunidenses são proibidos de fazer turismo e está entre os países nos quais Washington mantém um alerta de viagens contra ele, com a recomendação de «reconsiderar as viagens».

Contudo, neste mês Cuba alcançou já o primeiro milhão de visitantes, dispõe de cerca de 67 mil apartamentos em hotéis e mais de 21 mil alojamentos familiares e opera com 68 linhas aéreas que enlaçam a Ilha com 70 cidades importantes do mundo. A modalidade de cruzeiros, entre portos e áreas de escala transita por seis pontos de sua geografia e foi reconhecida, recentemente, como «o país mais seguro para o turismo» na 38ª edição da Feira Internacional do Turismo (Fitur) em Madri, Espanha.

As mudanças no panorama foram difíceis, mas o país continua validando-se como um dos destinos prediletos do Caribe. Segundo declarou a diretora de Comunicação do Ministério do Turismo, Janet Ayala, embora o número (1 milhão de visitantes) fosse atingido com quatro dias de atraso, em relação ao ano anterior, os resultados são um avanço notável, em meio das pressões e situações adversas que o país viveu nos últimos períodos.

DEPOIS DO CICLONE

Irma bateu Cuba no mês de setembro e dias antes de sua passagem 88,5% dos turistas no país se encontravam alojados em hotéis da costa norte, zona onde precisamente açoitou mais forte este fenômeno natural. Só nos polos turísticos das ilhotas Coco, Guillermo e Santa María foram evacuados 10.625 visitantes.

Mais de 70% dos hotéis do arquipélago do Norte sofreram danos, tal como 26% da infraestrutura hoteleira de Varadero, o destino de sol e praia mais importante da Ilha. As principais afetações estiveram nas áreas de relva, nos tetos leves, nos falsos tetos e elementos de vidraçaria e carpintaria de alumínio, explicou o ministro do Turismo (Mintur) Manuel Marrero Cruz.

O turismo é hoje um dos setores mais dinâmicos da economia. www.cubatravel.tur.com Foto: Granma

Durante os meses de outubro, novembro e dezembro, os indicadores de entrada de turistas ao país caíram, ao se generalizar erroneamente, a ideia de que «tudo estava mal e que era impossível para Cuba se recuperar antes da temporada alta», acrescentou o ministro. De igual maneira, em 2017 se atingiu o número de 4,7 milhões de visitantes, 11,9% acima do previsto.

«Estou muito surpresa, perguntei e realmente não posso acreditar na rapidez com a que tudo foi restaurado. Contaram-me como tinha ficado o hotel e como todos os empregados ajudaram para acelerar o processo. Estava um pouco assustada porque a data era muito próxima de tudo o que tinha acontecido, mas está tudo impecável», comentou ao Granma Internacional uma hóspede da Argentina que visitou Jardines del Rey, justamente no mês de novembro.

Quinze dias depois do furacão começaram os trabalhos construtivos e já em 1o de novembro, em pouco mais de 40 dias, as ilhotas do norte acolheram clientes em suas instalações (mais de 3.120 visitantes apenas em Jardines del Rey).

Ao iniciar a temporada alta (dezembro de 2017) suas instalações, mostraram um produto completamente renovado e igualmente aconteceu com Varadero, que em apenas dois meses se recuperou totalmente graças ao desempenho dos mais de 2 mil trabalhadores que assumiram as ações de reabilitação e que em breve tempo restituíram o polo turístico, com assistência ativa dos coletivos das instalações. Segundo afirmou Ivis Fernández Peña, delegada do Ministério do Turismo na província de Matanzas, os 52 hotéis do balneário contavam com melhores condições hoteleiras e de infraestrutura.

UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA

«Cuba é insegura» e «existem riscos graves para sua segurança e proteção», caso visitar a Ilha, considera Washington e o novo sistema de segurança do Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde a recomendação é «reconsiderar as viagens» ao colocar Cuba no terceiro lugar deste ranking.

À par destas injustificadas qualificações, justo em 18 de janeiro, Cuba recebeu o prêmio Excelência como «o país mais seguro para o turismo» na 38a Feira Internacional do Turismo (Fitur) em Madri, Espanha. O anterior «não é uma surpresa para mim — disse o jornalista Christopher P. Baker no site smerconish.com — sempre considerei que depois do Canadá, Cuba é o lugar mais seguro nas Américas». Por isso, «a noção de que Cuba é insegura é falsa», ressaltou o especialista estadunidense.

Apesar do bloqueio e das restrições de fazer turismo na Ilha e depois das flexibilizações nas licenças para viajar a Cuba feitas pela administração Obama, a chegada de visitantes aumentou consideravelmente. Em 2017, Cuba recebeu 620 mil viajantes estadunidenses e impôs o recorde de visitantes estrangeiros. Segundo a companhia Cuba Educational Travel a maioria considera o país um lugar «muito seguro».

As experiências e enquetes especializadas mostram a satisfação dos visitantes e são provas da segurança, tranquilidade e estabilidade existente em Cuba, características reconhecidas também por organismos internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) e outros especializados no setor do turismo. Igualmente, empresas líderes avaliam os padrões de qualidade e o bem-estar da Ilha maior das Antilhas.

Igualmente, uma delegação bicameral de legisladores norte-americanos e suas famílias, que visitaram recentemente a Ilha, asseguraram sentir-se seguros no país. Em sua visita a Cuba, o congressista Jim McGovern assinalou que se encontrou com estudantes estadunidenses da Universidade de Havana. «Eles se sentem seguros», acrescentou. «Falei com o pessoal de negócios e se sentem seguros, tal como os norte-americanos que estão trabalhando na sede diplomática».

CRUZEIROS EM CUBA

«Cuba possui condições únicas para o turismo e propriamente para o turismo de cruzeiro, graças à posição privilegiada na região», comentou o ministro do Comércio Exterior e o Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca Díaz.

Esta modalidade, que recomeçou desde 2016 com rotas a partir dos Estados Unidos e até Cuba, aumentou consideravelmente as chegadas de embarcações e passageiros. Segundo dados oferecidos pelo Ministério do Turismo, dos quatro milhões de turistas que chegaram nesse primeiro ano, 112 mil chegaram a bordo dessas embarcações.

Ainda que a administração do presidente Donald Trump, anunciasse, em junho de 2017, um grupo de medidas que dificultam as viagens entre os dois países, com estritos regulamentos do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, hoje quatro companhias estadunidenses (Carnival Cruise Line, Royal Caribbean Cruise Line (RCCL), Norwegian Cruise Line Holding (NCLH) e Pearl Seas LLP operam na Ilha e se espera a incorporação de uma quinta.

«Dos 500 destinos de minha companhia, Havana é o número um em satisfação dos clientes. Muitos de meus colegas repetiram o mesmo comentário, isso evidencia o que Cuba tem para oferecer», assegurou Frank Del Río, conselheiro delegado da estadunidense Norwegian Cruise Line Holding ao visitar Cuba, quando em novembro de 2017 diretivos das principais companhias de cruzeiros do mundo e autoridades cubanas discutiram sobre as oportunidades para ampliar operações no país.

Durante a administração de Obama, Cuba assinou memorandos de entendimento com autoridades portuárias de diferentes cidades estadunidenses (Virginia, Louisiana, Lake Charles New Orleans, Alabama, Puerto del Golfo, Pascagoula, Houston e Cleveland), chaves para facilitar o desenvolvimento da indústria de cruzeiros. Contudo, as novas medidas do atual presidente norte-americano não só limitam a entrada de estadunidenses à Ilha, mas também a liberdade de suas empresas (a maioria do setor turístico) para fazer negócios.

Perante este ambiente e as limitações do bloqueio, que impedem avançar nas relações bilaterais, especialmente na atividade marítimo-portuária, as autoridades cubanas afirmaram que prevem implementar um amplo programa de desenvolvimento desta infraestrutura. O projeto estará destinado a potenciar o turismo de cruzeiros em diversos pontos do território e assegurar esta modalidade, que cada ano se multiplica.

A companhia estadunidense Carnival Cruise Line anunciou para 2019, 17 novas saídas para Cuba, a bordo do navio Carnival Sensation, com viagens de cinco dias que partirão do sul da Flórida. Segundo a agência cubana Prensa Latina, as viagens incluirão um dia em Havana e paragens em portos populares do Caribe e as Bahamas. Christine Duffy, presidenta de Carnival Cruise Line, referiu que Cuba é um destino buscado e estão encantados de oferecer a seus clientes ainda mais oportunidades de experimentar e explorar «essa fascinante Ilha».

PARA CONTINUAR COM BOM RITMO

O setor turístico em Cuba reconhecido no Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social até 2030 como um dos setores estratégicos para a economia cubana, inclui entre seus objetivos a diversificação e trabalha para mostrar novas atrações. História, cultura, arquitetura, trekking; turismo de natureza e de cidade são os novos espaços que pretendem consolidar-se.

Neste sentido, prevê-se ampliar a quantidade de marinas e náuticas no país, bem como a construção de novos campos de golfe e imobiliárias. A participação e realização de convenções, congressos e feiras estão entre os imperativos, que prestam especial atenção também às modalidades de saúde e qualidade de vida.

De igual maneira, trabalha-se no resgate dos grupos de eventos e no turismo de incentivos, «modalidades de grandes volumes de visitantes onde usualmente o expositor vem acompanhado da família», explicou o ministro do Turismo, Manuel Marrero durante o 10º Período Ordinário de Sessões da 8ª Legislatura da Assembleia Nacional.

Incentivar o turismo sustentável, é outro imperativo. Em relação a isso, o Conselho de Ministros aprovou um plano de medidas para enfrentar a mudança climática; bem como a execução de um grupo de normas reguladoras para o meio ambiente (Lei de costas e a demolição de instalações na orla costeira).

Atualmente, a indústria turística nacional está imersa em um amplo processo de empreendimentos, visando o remoçamento e incremento de capacidades de alojamento. Um detalhado plano para 2030 e vaticínios favoráveis completam as expectativas deste setor, que, além disso, prevê chegar aos cinco milhões de visitantes em 2018 e crescer na ordem de 6%.