Ser martiano é ser patriota

28/01/2018 12:37

AQUELES que hoje falam dele não o conheceram mais que por sua obra. Contudo, parecem tê-lo abrigado em seu cotidiano, para torná-lo seu. A esses intelectuais, artistas, políticos, homens e mulheres, voltamos neste 165º aniversário natalício do Apóstolo, mais do que tudo, porque é inegável a vigência de seu pensamento.

«Martí não deixou nada ao acaso na história de Cuba», garantiu Cintio Vitier, destacado intelectual cubano e estudioso de sua obra. «Na magnitude de seu legado, encontram-se temáticas tão variadas e complexas que persistem até nossos dias. Eis uma das grandezas de seu pensamento: sua imortalidade».

Acerca de Martí, Armando Hart Dávalos, ex-diretor do Gabinete do Programa Martiano e ex-presidente da Sociedade Cultural José Martí, disse: «Martí fazia a política como uma arte e, em definitiva, era a arte de unir os homens para um fim determinado. Na essência, essa originalidade consiste em superar a divisa do ‘divida e vencerá’ da reação, pela consigna: ‘unir para vencer’».

A unidade foi uma ideia que defendeu sempre e mencionava como sendo indispensável para atingir a independência. Sob este ideal estourou a guerra de 1895, surgiu o Partido Revolucionário Cubano, levantou-se a Geração do Centenário, triunfou a Revolução e continua adiante não só neste país, mas na luta da esquerda latino-americana.

Como visionário, defendeu a imagem de uma América unida e o conceito de Pátria é Humanidade. Um pensamento que hoje vive na solidariedade e o internacionalismo, na Celac, a ALBA e nos processos revolucionários da região que permitiram, a partir da ação, viver em uma América mais nossa.

UM HERÓI DA REVOLUÇÃO

«O pensamento martiano é o sustento da profecia e do triunfo da Revolução cubana» escreveu Eusebio Leal Spengler, há dez anos, nas páginas deste jornal. Naquele artigo acrescentava: «Se nós estamos hoje aqui é porque Fidel, com sua generosidade e sentido abrangente, percebeu que o Apóstolo encarnava o sentido intelectual e o valor ético da cultura e nação cubanas».

Em sua juventude, Fidel se deparou com a literatura martiana, estudou-a, releu-a e ficou convicto de que Martí foi, como ele próprio diria em uma ocasião, seu guia. Já naquela época, Martí era paradigma para boa parte de sua geração. A Revolução de 1930, que julgava o sistema neocolonial, a luta pela Constituição de 1940, os acontecimentos nas universidades e toda a efervescência da época, tinham atrás sua figura.

Fidel se apropriou, então, de todo aquele culto para continuar adiante e materializar com fatos o legado martiano. Como autor intelectual do Moncada, guiou, tal como fez anos atrás, esses jovens cubanos com a grandeza e o sentido oportuno do seu pensamento.

«O APÓSTOLO É O GUIA DA MINHA VIDA»

Fidel Castro foi um homem de ideias martianas e de sentimentos patrióticos. Em uma de suas tantas declarações, relativamente ao legado de José Martí, assegurou: «a audácia, a beleza, o valor e a ética de seu pensamento ajudaram a converter-me no que penso que sou: um revolucionário».

Um revolucionário que passou de jovem rebelde a líder de um país, que lançou mão das ideias de José Martí para o fazer e para incutir também no povo a necessidade de concretizar essas ideias martianas. «Podemos dizer a Martí que hoje mais do que nunca necessitamos de seus pensamentos, que hoje mais do que nunca necessitamos de suas ideias, que hoje mais do que nunca necessitamos de suas virtudes», manifestou o Comandante-em-chefe, há mais de 20 anos.

Durante todo este tempo, quase 60 anos de Revolução, José Martí foi, segundo Eusebio Leal, «a força salvadora, daí que na alma dos cubanos encontre abrigo esse culto legítimo a um homem que não só foi de seu tempo, mas de todos os tempos; não só de Cuba, mas do mundo inteiro».

O HUMANISMO MARTIANO

O cantor, compositor e poeta cubano, Silvio Rodríguez, disse há alguns anos que o essencial da personalidade de José Martí era «acima de tudo, a bondade, a ética martiana. Esse dar à vida um sentido e que esse sentido seja para o bem-estar dos homens. Esse desprendimento tão grande que havia em Martí; esse querer que todos fôssemos felizes; esse entregar-se e indagar nos sentimentos dos seres humanos».

Seus textos e ações evidenciam um homem comprometido com o bem, com a humanidade, a liberdade e a paz; por isso assegurava Armando Hart em uma entrevista publicada no ano 2003: «Ele sentiu a dor, a angústia e a maldade que imperavam no mundo, mas também a necessidade de transformá-lo, enriquecê-lo e torná-lo belo».

Por esse interesse, afastado de toda a individualidade humana, foi um homem tão grande. E continuava Hart em suas declarações: «estava dotado de uma altíssima sensibilidade, foi um poeta e literato ilustre, e soube, inclusive, organizar uma guerra. Era um homem excepcional! Foi, também, profundamente radical e nunca extremista. Seu radicalismo estava encaminhado a alcançar a justiça e a dignidade plena do homem».

«Em Martí se chegaram a relacionar a bondade, a inteligência e a felicidade, e esse é o homem novo ao qual se referia Che Guevara».

Um homem novo que, ainda que esteja por se concretizar, evidentemente terá que ser também martiano.

MARTÍ HOJE

Quando chegamos ao seu 165º aniversário natalício muitos continuam tendo-o como bandeira. Sua visão de futuro chegou até hoje, continua sendo necessário e não só como guia para a criação de um melhor país, mas como referência para as gerações futuras. Músicos como Israel Rojas, voz líder da dupla Buena Fe, levaram-no às suas canções, insistindo em que «o Martí verdadeiramente aterrissado, maravilhoso, interminável, hoje nos deve acompanhar mais do que nunca».

Tal como ele, muitos outros o guardam. Silvio Rodríguez, insiste em torná-lo eterno. Em uma entrevista publicada no jornal Juventud Rebelde, no ano 2012, Silvio afirmava: «Martí é um universo tão grande, tão vasto, falou de tantas coisas, sua mente esteve em tantas partes, que eu penso que, neste momento, é particularmente necessário para nós todos.

«Martí é o ponto de apoio onde se fundamenta nossa coerência como nação».

Uniu o passado... falou das pessoas da guerra de 1868, colocando-as em função de um presente que era incerto nesse momento, mas ele via que tinha que partir dessa semente. E deu, também, coerência ao futuro.

Rumo a esse futuro que olhamos hoje todos, terá que acompanhar-nos irremediavelmente Martí. Como diz René González Sehwerert, um dos Cinco Heróis Cubanos e atualmente vice-presidente da Sociedade Cultural José Martí.

«Tornemos cada cubano um martiano de coração e esta Revolução viverá para sempre».

José Martí não é já somente o Herói Nacional mas um valor da nacionalidade cubana. Ser patriota em Cuba é ser martiano.