Quais medicamentos produz e pesquisa a BioCubaFarma na luta contra a Covid-19?

23/04/2020 03:36

O doutor Eduardo Martínez Díaz, presidente do Grupo Empresarial BioCubaFarma fala acerca das pesquisas científicas em andamento, que têm como centro a busca de novos produtos para enfrentar a Covid-19

Para conhecer como andam as pesquisas científicas que têm como centro a busca de novos produtos para enfrentar a Covid-19 e o emprego, com o mesmo fim, de outros já desenvolvidos no país, o Granma Internacional obteve as declarações do doutor Eduardo Martínez Díaz, presidente do Grupo Empresarial BioCubaFarma.

O que esteve fazendo a industria biotecnológica e farmacêutica cubana para fazer face à Covid-19?

«Nosso Grupo Empresarial possui um plano específico com quatro componentes fundamentais, os que são:

→ Fornecimento dos medicamentos que fazem parte do protocolo do ministério da Saúde Pública (Minsap), para a Covid-19

→ Atividade de Pesquisa-Desenvolvimento para contribuir com novos produtos e conhecimentos para o combate contra este vírus.

→ Cooperação com outros países no fornecimento de medicamentos pata lutar contra a pandemia.

→ Plano de medidas internas em nossas empresas, para proteger os trabalhadores e garantir as operações nas circunstâncias atuais.

Quantos productos fornece atualmente a BioCubaFarma para o protocolo cubano de confronto à Covid-19?

«No começo, foram definidos 22 medicamentos, vários antivirais, liderados pelo Interferon e um grupo importante de fármacos usados nos hospitais, para os pacientes em diferentes fases, incluindo os que estão em estado grave e crítico. Atualmente, contamos com estoques deles para milhares de pacientes e continuamos fortalecendo as capacidades produtivas».

«As empresas da BioCubaFarma se incorporaram à produção de máscaras de proteção e productos de higiene, como sabonetes medicinais, solução de hipoclorito, soluções hidroalcóolicas, etc.».

«Igualmente, a partir das capacidades de nossas usinas e laboratórios, em parceria com outras empresas do país e trabalhadores independentes, estamos trabalhando na reparação de equipamentos muito importantes para enfrentar esta pandemia, como os ventiladores pulmonares, enquanto começamos a fabricar meios individuais de proteção, fundamentalmente máscaras para respiração com filtros, visores, óculos e roupas».

Quais são os avanços científicos mais significativos?

«Desde o começo criamos na BioCubaFarma um grupo de trabalho e foram ativadas as comissões do Conselho Científico, focadas na luta contra a epidemia. Uma das tarefas permanentes tem sido a procura de informação, o estudo das características do vírus e o comportamento da pandemia em geral».

«O processamento da informação nos permitiu, em um período de tempo relativamente curto, fazer propostas de emprego de remédios para a sua incorporação no protocolo ou para a sua avaliação clínica inicial».

«Hoje sabemos que uma vez ocorrida a infeção com o Sars-Covid-2, os pacientes podem rumar por dois caminos diferentes:

  1. Das pessoas infetadas, 80% delas passa a doença de forma leve ou assintomática.
  2. O restante 20% apresenta complicações ou passa a um estado grave ou crítico. Lamentavelmente, a letalidade média em nível mundial está acima de 5% e em alguns países ultrapassa 10%.

«A diferença entre os grupos 1 e 2 assenta fundamentalmente no estado imunológico das pessoas infetadas. Conhece-se que os casos mais graves chegam a ter 60 vezes mais carga viral do que os casos leves. Isso ocorre porque as pessoas com o sistema imunológico fraco não respondem de imediato à infeção e este vírus, que tem uma alta capacidade de replicar, atinge altos níveis de cópia».

«Igualmente, conseguiram ser definidos vários grupos de risco, os que têm como elo comum a fraqueza do seu sistema imunológico e, portanto, são mais vulneráveis a ter complicações quando são infetados pelo novo coronavírus».

«Estes grupos de risco são as pessoas acima dos 60 anos, pessoas imunodeprimidas, pacientes com diabetes, com câncer, com hipertensão, etc.».

«Perante este cenário concentramo-nos em poder dispor de medicamentos para fortalecer o sistema imunológico das pessoas vulneráveis, medicamentos com efeito antiviral e fármacos para evitar a norte dos pacientes graves e críticos».

«Durante as últimas semanas foram incorporados no protocolo de combate à Covid-19, a Biomodulina T e o Fator de Transferência, dois medicamentos que fortalecem o sistema imunológico. Também está sendo produzida uma variante do Interferon para seu uso pela via nasal, o qual será empregado, de forma preventiva, com o mesmo propósito».

«Por outro lado, estão sendo reavaliadas duas vacinas de amplo espectro, de forma a estimular o sistema imune inato. São vacinas de novo tipo, nas quais viemos trabalhando, com o objetivo, precisamente, de «treinar» o sistema imunológico daquelas pessoas susceptíveis a infeções virais».

«Tais produtos permitem preparar as pessoas para que, uma vez prontas, desenvolvam uma resposta imunologica mais efetiva. Estas vacinas poderiam ser incorporadas brevemente, no protocolo de luta contra a Covid-19».

O que estão fazendo para tentar evitar a norte de pacientes em estado crítico ou grave?  

«Tal como falei anteriormente, os pacientes graves chegam a ter uma carga viral 60 vezes maior do que aqueles com um desenvolvimento leve da doença. Essa alta carga viral produz uma resposta no organismo, que conduz àquilo que é chamado de «tempestade de citoquinas», que pode provocar a norte dos pacientes em um período breve de tempo».

«Da mesma forma, propusemos ao grupo de peritos do Minsap dois medicamentos para seu uso nos pacientes graves e críticos. Depois de uma análise rigorosa, foi aprovada sua avaliação de forma controlada. É bom ressaltar que estes medicamentos têm uma certeza farmacológica já testada e verificada e evidências de sua eficácia em outras doenças sob estudo».

«Até à data, os referidos fármacos já foram empregados em vários pacientes com a Covid-19 e começamos a ver resultados alentadores embora, naturalmente, tenhamos que esperar, até ter mais evidências que permitam afirmar que estes produtos estão tendo o efeito desejado e, portanto, salvando vidas».

Lemos algumas noticias que expõem que os interferones não têm uma demonstração clínica para seu emprego na Covid-19?

«Nenhum dos produtos que hoje é utilizado em nível mundial, no tratamento da Covid-19 tem evidência clínica demonstrada em um estudo controlado. Isto é, não dispomos de tempo suficiente para realizar os testes clínicos com todo o rigor necessário que permitam avaliar a eficácia de algum medicamento específico nesta pandemia».

«Foi apresentada e aprovada pelas autoridades reguladoras de inúmeros países do mundo uma grande quantidade de medicamentos. Nós estamos fazendo-o também. Por exemplo, cada resposta dos nossos cientistas é examinada no Grupo de Trabalho da BioCubaFarma e posteriormente é apresentada a um grupo de peritos do Minsap, do qual participa o Centro de Controle dos Medicamentos (Cecmed) e o Centro Coordenador de Estudos Clínicos (Cencec), onde é aprovado».

«Temos estabelecido mecanismos especiais para a rápida avaliação dos protocolos, mantendo um alto rigor».

«No caso do Interferon Alfa 2B Humano Recombinante, produzido em nosso país, está incluído no protocolo de tratamento da Covid-19, junto com outros retrovirais químicos. O Interferon é importante para que o corpo humano possa combater o vírus debido à ativação do sistema imunológico e à ativação dos mecanismos de inibição à réplica viral»

«Sabemos que assim que começou o surto da epidemia na China, o Interferon foi incorporado no protocolo do tratamento. A partir dos resultados que foram se obtendo, este medicamento foi recomendado após um consenso dos especialistas e passou a fazer parte dos guias terapêuticos que foram sendo aprovados, não somente na China, mas também em outros países».

«Para o caso particular de Cuba, o emprego deste medicamento na epidemia da Covid-19 mostra resultados muito positivos relativamente a evitar que os pacientes evoluam rumo ao estado grave».

Estão trabalhando em vacinas preventivas específicas para este virus?

«Segundo a literatura especializada, não é conhecida a magnitude dos pacientes infetados assintomáticos. Estes pacientes são uma das causas fundamentais da expansão da epidemia, daí a importância da pesquisa ativa para identificá-los e isolá-los».

«Hoje se afirma que no caso de esta epidemia será preciso viver parando ou impedindo as transmissões, para ir manipulando a situação, até que seja conseguida uma vacina preventiva específica. Já foram apresentados mais de 60 protótipos de vacinas em nível mundial e com dois deles começaram os testes em humanos».

«Nós também estamos focados no desenvolvimento de vacinas preventivas específicas para este virus. Temos o desenho de quatro protótipos e se trabalha aceleradamente para, no menor prazo de tempo possível, iniciar as avaliações em modelos animais».

Também trabalham no desenvolvimento de sistemas de diagnóstico?

«Sim, como é conhecido, o teste do PCR (siglas em inglês de Reação em Cadeia da Polimerase), em tempo real, é o teste fundamental para confirmar os portadores do vírus. Foram desenvolvidos sistemas de diagnóstico rápido para medir os anticorpos que se produzem durante a infeção».

«Nós estamos trabalhando no desenvolvimento de um sistema do tipo Elisa (acrônimo do inglês Enzyme-LinkedInmunoSorbent Assay: Teste por Imunoabsorção ligado a enzimas») baseado na tecnología do Sistema Ultramicroanalítico (Suma), que poderia estar disponível nas próximas semanas. Realmente, revela-se um desafio ter o sistema instalado e validado em tão pouco tempo, mas trabalhamos intensamente para o conseguir».

 

FONTE: GRANMA
https://pt.granma.cu/cuba/2020-04-14/quais-medicamentos-produz-e-pesquisa-a-biocubafara-na-luta-contra-a-covid-19