Outra face da mesma moeda: insultam Lula para condenar Cuba

15/03/2010 19:30

Há duas semanas, em 27 de fevereiro, escrevi um artigo a que dei o título de “Quanta hipocrisia dessa gente de direitos humanos seletivos. Atacam Cuba para atingir Lula”. Nele dizia que o cadáver de Zapata era exibido como um troféu coletivo. Os grandes meios de comunicação já vinham antecipando o desenlace com intenções pouco dissimuladas de utilização com premeditados fins políticos. Zapata não fazia parte dos chamados dissidentes que foram julgados em março de 2003, não era um dos 75. Tinha um longo histórico delitivo comum, nada vinculado à política. Transformado depois de muitas idas e vindas à prisão em ativista político, era um homem prescindível para os opositores da Revolução. Apesar de se negar a tanto, recebeu, de acordo com o que estabelece o Tratado de Malta, a assistência médica necessária. Nele relacionei alguns casos flagrantes de brutal violação de direitos humanos, históricos e atuais, sem que a grande mídia internacional e seus porta-vozes acusassem minimamente os respectivos governos de criminosos. E concluía dizendo que a visita de Lula a Havana coincidira com a morte de Zapata, criticando-o furiosamente pretendendo vinculá-lo ao desrespeito a direitos humanos e querendo, no fundo, destruir sua imagem de grande líder nacional e internacional em proveito de seus interesses ideológicos permanentes e eleitorais de agora. O comportamento de Lula naquele episódio foi de chefe de Estado que respeita o princípio da auto-determinação. E pessoalmente foi leal aqueles que ao longo de décadas se constituíram numa referência de soberania e independência mas também de dignidade, heroísmo e solidariedade.

Face à entrevista de Lula desses dias à Associated Press, a sanha da direita internacional contra ele se volta raivosamente. A grande imprensa convoca personagens como Mario Vargas Llosa, Andrés Oppenheimer, Carlos Montaner e outros plumitivos para insultar o nosso presidente e desclassificá-lo para as importantes missões internacionais que em breve irá desempenhar.. Manipulam o normal sentimento das pessoas comuns. contudo torcem e distorcem os fatos, escondem a realidade, mentem e enganam. Ao desqualificar a Lula, servindo-se vergonhosamente do episódio, querem matar o outro coelho da cajadada: Cuba.

 

Peço aos leitores que acompanhem atentamente a transcrição “ipsis litteris” do fragmento da entrevista à AP:

 

 

“Jornalista: Queria perguntar também sobre a viagem que o senhor acabou de fazer para Cuba. Naquele momento estava a situação daquele dissidente, que estava em greve de fome, agora tem outro cara em greve de fome também. Como o senhor acha que Cuba deve lidar com essa situação dos dissidentes?

 

Presidente: Olha, veja, eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos aqui em São Paulo entrassem em greve de fome e exigissem liberdade. Ora, veja, nós temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como eu quero que eles respeitem o Brasil, como eu quero respeitar aquilo que os Estados Unidos fizerem, cumprindo a lei. A partir daí, um cidadão, fazer uma greve de fome até se permitir morrer... Eu já fiz greve de fome e nunca mais eu farei, nunca mais eu farei. Eu acho uma insanidade judiar do próprio corpo. Mas não é apenas em Cuba que morreu um cara de greve de fome. Tudo mundo sabe o que acontecia na Irlanda, quanta gente do IRA morreu de greve de fome. Eu vejo muita gente que hoje critica o governo cubano por causa da morte, não falava nada da morte do IRA. Era como se fosse uma coisa normal morrer lá na Irlanda e não fosse normal as pessoas morrerem em outros países. Eu gostaria que não acontecesse. Agora, não posso questionar as razões pelas quais o cubano prendeu ele, como eu não quero que Cuba me questione pelas razões que pessoas estão presas no Brasil.”

 

Na pergunta, o jornalista por duas vezes enfatizou a greve de fome. Lula, que tem uma posição pessoal, enérgica e conhecida contra a greve de fome como instrumento de pressão, respondeu pontualmente à questão ilustrando com a possibilidade de presos comuns valerem-se de greve de fome para obter liberdade. Passou depois a outra série de considerações.

Sabem como a Folha de S. Paulo transcreveu entre aspas a entrevista? Ah, a semiótica! Inverteu os dois primeiros parágrafos. Dentro do contexto colocado em primeira plana “temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano” enfiou o “Imagine se todos os presos de São Paulo”. Destarte esse ínclito jornal descontextualizou, deturpou e manipulou o pensamento de Lula a seu talante, para servir aos seus interesses ideológicos.

Quando Lula diz “nós temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como eu quero que eles respeitem o Brasil” disse-o porque viveu “in loco” o clima de ardilosa manipulação que se arquitetava em torno do “caso Zapata” e quis trazer a questão para o campo da realidade concreta dos acontecimentos.

Mas não parou por aí a entrevista. Afirmou em seguida “como eu quero respeitar aquilo que os Estados Unidos fizerem, cumprindo a lei.” Pouca gente sabe, porque a nossa imparcial grande imprensa sonega esta informação – sempre sonegou, que há mais de 11 anos cinco prisioneiros políticos cubanos, lutadores antiterroristas, encontram-se atrás das grades em distintas prisões de alta segurança. Foram condenados no ambiente acerbamente contrário a Cuba, em julgamento viciado que violou o devido processo legal, a penas draconianas. Um deles a duas prisões perpétuas mais 10 anos. Esposas não podem e nunca puderam visitá-los, alegadamente por ameaçarem a segurança do país. Os Estados Unidos cometem essa barbaridade cumprindo sua lei. Como cumprem sua lei em Guantánamo, única área de Cuba em que se praticam torturas, sob a aprovação legal e estímulo dos presidentes Bush e Chenney e a tolerância dos atuais governantes. A propósito, por diversas vezes o presidente Raul Castro propôs a troca dos chamados dissidentes pelos 5 Cubanos, a primeira vez aqui no Brasil. A resposta até agora tem sido o silêncio de Washington.

Em seguida Lula afirmou “mas não é apenas em Cuba que morreu um cara de greve de fome. Tudo mundo sabe o que acontecia na Irlanda, quanta gente do IRA morreu de greve de fome. Eu vejo muita gente que hoje critica o governo cubano por causa da morte, não falava nada da morte do IRA. Era como se fosse uma coisa normal morrer lá na Irlanda e não fosse normal as pessoas morrerem em outros países.” Lembro que 11 membros do Exército Republicano Irlandês (IRA), do Exército de Libertação Nacional Irlandês (INLA) encerrados nos blocos H da prisão de Maze, deflagraram em 1º de março de 1981 uma greve de fome. Suas reivindicações: não usar uniformes de presidiário; não realizar trabalhos forçados; liberdade de associação e organização de atividades culturais e educativas; direito a uma carta, uma visita e um pacote por semana, que os dias de protesto não fossem descontados quando do cômputo do cumprimento da pena e a recusa de serem tratados como criminosos. Defendiam, a um só tempo, sua dignidade pessoal e a legitimidade da luta pela libertação de seu país. Margareth Thatcher mostrou-se o tempo todo insensível, fez ouvidos de mercador aos apelos humanitários. Teria o Estadão, a Folha ou o Globo ou El Pais, The New York Times, Die Welt, Le Fígaro, Clarin, estampado em sua manchete principal acusando Thatcher de homicida? Evidentemente, não!

 

 

 

Nenhum regime tirânico se sustenta por muito tempo se não conta com o apoio do povo.

Quando o regime tirânico de Fulgêncio Batista endureceu sua tirania, Fidel Castro e seus companheiros subiram a Sierra Maestra e com a bravura que a história consagrou e o apoio do povo esmagou a ditadura tirânica. Quando ruiu o sistema soviético, quantos analistas, politólogos, muitos ‘soi disant’ de esquerda, vaticinaram que a peça seguinte do dominó a cair seria Cuba – e em poucas semanas. Isto já faz 20 anos.

 

Um requerimento assinado por José Ramos-Horta, Rigoberta Menchú, Adolfo Pérez Esquivel, Máiread Corrigan Maguire, Günter Grass, José Saramago, Dario Fo, Nadine Gordiner, Wole Soyinka e Zhores Alferov + Gabriel Garcia Marquez, Nelson Mandela

 

Quando literalmente da noite para o dia, bloqueado há mais de meio século,

11 presidentes tentando derrocar a revolução numa ilha situada a pouco mais de 150 quilômetros do império mais poderoso da história

 

27 de fevereiro o outro artigo Bush e Chenney

Max Altmann