Máfia compra votos nos EUA para impedir viagens a Cuba

12/07/2010 02:14

A Câmara de Comércio dos Estados Unidos surpreendeu os congressistas, ao advertir que se propõe a "monitorar os votos" sobre o projeto de lei bipartidário (HR 4645) que pretende restabelecer o direito dos norte-americanos de viajarem a Cuba e de venderem alimentos para a Ilha de uma forma mais normal.

Por Gabriel Molina, em Granma

O tom das cartas para expressar apoio à flexibilização das medidas contra Cuba nunca havia implicado uma virtual ameaça como agora. Bruce Josten, chefe do lobby da Câmara, disse que a contagem dos votos será vigiada, caso a proposta, aprovada em 30 de junho do Comitê de Agricultura por 25 a 20 votos, chegue ao plenário.

 

A inusitada advertência produziu-se depois de uma denúncia da Comissão Federal de Eleições sobre a compra de votos pelo Comitê de Ação Política dos EUA - Cuba Democracy (PAC, pela sigla em inglês), que opera o lobby cubano-americano de Miami, o qual dedicou mais de 73 mil dólares nos primeiros quatro meses de 2010 para impedir a aprovação do projeto.


O PAC já doou algo em torno de 11 milhões de dólares para cerca de 400 candidatos e legisladores, entre 2004 e 2008. Segundo um documento do grupo no apartidário Public Campaing, 53 democratas receberam mais de 16 mil dólares, cada um, e pelo menos 18 deles mudaram de posição.


Os republicanos Iliana Ros-Lehtinen, Lincoln e Mario Díaz-Balart, e o senador Robert Menéndez são os principais beneficiários. Uma pesquisa realizada em 2008 pela World Public Opinion mostrou que 70% dos americanos são a favor das viagens para Cuba. Entre os cubano-americanos, 55% são contra o bloqueio.


Debbie Wasserman Schultz, democrata por Weston, recebeu 75,7 mil dólares do Comitê; Kendrick Meek, democrata de Miami, ocupa o oitavo lugar na lista. O republicano por Montana, Denny Rehberg, mudou de entusiasta opositor do bloqueio ao voto favorável às proibições, após receber 10,5 mil dólares do PAC.


O deputado Tom DeLay, como líder da maioria, impediu, em 2004, que fosse restaurado aos norte-americanos o direito de viajar a Cuba, que havia sido aprovado pelas duas câmaras, por uma iniciativa bipartidária, com ampla maioria. DeLay fez o projeto desaparecer, em cumplicidade com Diaz-Balart.


A proibição de viajar a Cuba foi estabelecida há quase meio século, em janeiro de 1961, por Dwight Eisenhower. No final de seu mandato, o presidente William Clinton flexibilizou a possibilidade de viajar a Cuba para ganhar influência na ilha, mas o presidente George W. Bush voltou a proibir tal direito para compensar os extremistas cubano-americanos pelas fraudes que, na Flórida, lhe permitiram tirar o candidato Al Gore da presidência.


O projeto HR 4645 é patrocinado por 62 deputados, liderados pelo democrata Colin Peterson, presidente do Comitê de Agricultura da Câmara, e o republicano Jerry Moran, do Kansas, e o respadam mais de 140 organizações empresariais, sociais, econômicas, políticas e religiosas. Estas incluem, para além da Câmara de Comércio, o Conselho Nacional de Comércio Exterior (NFTC, por sua sigla em Inglês), que reúne mais de 300 grandes empresas dos EUA; o USA Engage e a Associação de Agentes de Viagens (ASTA), que também enviaram cartas aos legisladores para apoiar o projeto.


Além disso, também apóiam a iniciativa o Conselho de Igrejas (protestantes) e a Conferência dos Bispos (católicos) dos Estados Unidos; o Nacional Grain and Feed Association (NGFA) e a American Farm Bureau Federation; o Fund for Reconciliation and Development y a National Corn Growers Association


O ex-chefe do Comando Sul, general James Hill; o ex-diretor do Instituto Nacional de Controle de Drogas, General Barry MacCaffrey; o ex-Chefe do Estado Maior, Colin Powell; e outros nove ex-membros das Forças Armadas desse país reconheceram que "a política atual de isolamento de Cuba fracassou".


Bruce Josten, vice-presidente executivo da Câmara de Comércio, citou um estudo realizado em março passado pela Universidade A&M do Texas, segundo o qual diminuir as restrições às exportações para Cuba poderia desencadear um "boom", pois proporcionaria vendas de 365 milhões de dólares, 6 mil novos empregos e um impacto econômico no valor de 1,1 bilhões de dólares para o país. Mas o Congresso segue submetido à pressão dos subornos distribuídos pela máfia de Miami, com fundos do governo.


Steven Yoder, presidente da Câmara de Política Comercial da NGFA e do US Grain Council, afirma que o embargo (bloqueio) afeta pecuaristas e agricultores. Yoder admite que se deve eliminar o pagamento adiantado e a obrigação de utilizar bancos de países terceiros, disposições suprimidas no projeto HR 4645, que elimina as taxas que normalmente acompanham esses compromissos.


Também estabelece que sejam aplicadas as mesmas exigências de pagamento usadas nas exportações dos EUA a outros países. Assim, Cuba não teria que pagar adiantado e em efetivo antes que um barco zarpe de um porto norte-americano com mercadorias para a ilha. O projeto poderá ser discutido na Câmara após 8 de agosto e se comenta que precisa de 13 votos a mais do que os até agora confirmados.


Fonte: Granma