Fidel em dimensões infinitas

19/08/2018 12:21
Obra de Servando Cabrera Moreno. Foto: Granma

HOJE completa 92 anos. Completa, sim, em tempo presente, porque de outra forma obviaríamos sua comprovada imortalidade e negaríamos sua presença constante, a partir dessa dimensão maravilhosa chamado coração do povo, onde renasceu espontaneamente.

Uma existência como a de Fidel deve ser celebrada, mesmo além das barreiras corporais. Fidel deixou, em todo lugar aonde o levaram seus passos precisos, os traços mais profundos de esperança e humanismo, não porque com seus atos aspirasse a reconhecimento algum, mas porque todo seu ser tornou-se uma unidade incorruptível entre pensamento, palavra e ação.

Sua existência poderia ser escrita através das palavras daqueles que o conheceram e admiraram dentro e fora de Cuba. Cada um daqueles que tiveram o privilégio de tê-lo por perto, de compartilhar pelo menos um momento com ele, foram iluminados para sempre pela imensidão de seu pensamento, por seu incansável espírito, por sua fé profunda na possibilidade de um mundo melhor.

Penetrando nos sentimentos dos seus companheiros de luta, dos seus amigos mais próximos, dos seguidores de seu exemplo ou daqueles que inspirou sua figura autêntica, só há um resultado final, o orgulho incalculável de saber que era cubano, mas, ao mesmo tempo, vemos um Fidel nas mais diversas dimensões, naquelas que o tornaram universal.

A IMAGEM DO FUTURO

Ele conseguiu condensar em sua pessoa qualidades que o levaram a ocupar, em um momento histórico diferente, o mesmo lugar do Apóstolo, como o líder natural da Revolução, e não por nomeação própria, mas porque aqueles que o seguiram em seus anseios de independência perceberam nele a imagem do futuro. Uma das mais belas provas disso foi dada por Abel Santamaría, quando depois de tê-lo conhecido, escreveu a sua irmã:

«Yeye, eu conheci o homem que vai mudar o destino de Cuba. É José Martí em pessoa».

Obra de Oswaldo Guayasamín. Foto: Granma

E aquele jovem revolucionário tinha razão. Sua percepção precoce ganhou corpo após o decurso da história, e a nobreza, liderança, pensamento estratégico e respeito infinito aos seus correligionários, tornaram-se qualidades cada vez mais visíveis no homem-líder do Movimento 26 de Julho.

Isso foi sentido, também, por aqueles que o acompanharam cordialmente na Serra e nos tempos sem precedentes que se seguiram, como seu irmão argentino, Che Guevara, que afirmou com toda a convicção:

«(...) se nós estamos aqui hoje e a Revolução Cubana está aqui, é simplesmente porque Fidel foi o primeiro a entrar no Moncada, porque ele foi o primeiro a descer do iate Granma, porque esteve primeiramente na Serra, porque ele foi para Playa Girón em um tanque, porque quando houve uma enchente chegou até lá e teve até que brigar porque não o deixavam entrar (...) porque tem, como ninguém tem em Cuba, a qualidade de ter toda a autoridade moral possível para pedir qualquer sacrifício em nome da Revolução.»

O mesmo irmão que, ao partir de Cuba, deixou em sua carta de despedida o mais profundo afeto por Fidel:

«(...) se chegar para mim a hora derradeira, sob outro céu, meu último pensamento será para este povo e especialmente para você. Agradeço-lhe por seus ensinamentos e seu exemplo, ao qual tentarei ser fiel, até as últimas consequências de minhas ações (...) ».

Não há um único depoimento desses outros grandes homens que também aderiram à Geração do Centenário, que estiveram lado a lado com o mais experiente dos discípulos de José Martí, que não tenha para ele as palavras mais sinceras de respeito e admiração. O muito lembrado autor da música La Lupe, o Comandante Juan Almeida, estava orgulhoso de ter seguido Fidel, porque:

«Quando Fidel nos tratava, não olhava para a cor da pele, e a gente ficava empolgada (...) Para mim, Fidel é o maior homem deste século. Eu não conheci uma pessoa ou li sobre uma pessoa, as coisas que senti e que vi de Fidel, pelo que ele fez pela humanidade». (Conversando com o Comandante Juan Almeida Bosque, documentário de Estela Bravo).

Outro dos bons, daqueles jovens que resolveram mudar para sempre o futuro da Pátria, o Comandante Ramiro Valdés, disse que:

«Fidel, em poucas palavras, é a verdade do nosso tempo. Sem chauvinismo, ele é o maior estadista mundial do século passado e deste último; é o mais extraordinário e universal dos patriotas cubanos de todos os tempos». (Opinião escrita especialmente para o livro Absuelto por la Historia, de Luis Báez).

INSPIRAÇÃO PARA A AMÉRICA

Ninguém duvida que sempre existiu no Comandante-em-chefe uma sensibilidade especial pela realidade dos povos da América e do mundo. Isto implicou que também se tornasse uma fonte de inspiração de novos processos progressistas, principalmente em nossa região, e que palavras como «amigo», «mestre», «profeta» foram usadas ​​frequentemente para se referir à sua figura. Alguns dos maiores líderes latino-americanos atestaram isso:

«Ele superou sua missão nesta terra, superou-a além das maiores expectativas que poderia haver. Poucas vidas foram tão completas, tão luminosas. Ele partiu invicto, isso é melhor, como vocês dizem, não partiu, permanece invicto entre nós, absolvido, absolutamente absolvido pela grande história da Pátria!». (Nicolás Maduro Moros, presidente da República Bolivariana da Venezuela).

Obra de Maikel Herrera. Foto: Granma

«Fidel tem sido um verdadeiro pai dos excluídos, dos marginalizados, dos discriminados, dos mais pobres do mundo. Fidel nos ensina que o único caminho para nossos povos é a unidade e a integração. Fidel é um verdadeiro construtor da paz com justiça social». (Evo Morales, presidente da Bolívia).

E como podemos esquecer os sentimentos daqueles que, apesar de sua ausência física, estão acompanhando-o hoje na imortalidade, como Hugo Chávez, quem descobriu no líder cubano um ser humano excepcional, cujo exemplo Chávez se propôs seguir.

«Fidel é um grande detector de problemas, como um matemático, um Pitágoras. Um Pitágoras social, ele é um grande matemático social, para resolver os problemas dos povos. De tantas, tantas coisas que admiro de Fidel, desses 80 anos de imensidão, essa é uma das que mais eu admiro e procuro imitar. Fidel pode ser como um pai, um pai além das dimensões humanas, além dos formatos, e eu poderia pensar que ele me vê como um filho».

Muitas vezes, o eterno jovem rebelde denunciou os ataques contra a democracia dos povos, a interferência do império nos assuntos de outras nações, mas, acima de tudo, o financiamento de golpes de Estado que feriram profundamente o coração da América Latina.

Infelizmente, um preclaro presidente foi vítima de um desses atos terríveis, um querido amigo de Fidel, Salvador Allende, que, durante a visita do líder da Revolução ao Chile, em 1971, deixou para a história seus sentimentos em relação a esta Ilha e o imenso homem que se tornou para o mundo um símbolo de resistência e patriotismo.

«Cuba é uma nação ligada à história da América Latina, Fidel Castro representa uma autêntica revolução e queremos intensificar os tradicionais laços de amizade que sempre existiram entre nossos países».

TESOURO DA PÁTRIA

O papel desempenhado pelo Comandante-em-chefe para a dignificação de direitos, como o acesso à cultura e à educação, é inegável. Na construção dessas premissas revolucionárias, ele esteve muito próximo dos artistas e intelectuais, que também defenderam sua própria definição acerca de uma personalidade tão excelsa.

«Fidel é o tesouro da nossa pátria, é o ponto de coagulação do processo revolucionário. Sem Fidel, a Revolução teria existido, mas não sabemos quando, ou como teria sido essa Revolução.

A Revolução acelerou seus passos, chegou ao nosso país cedo, mais cedo do que em qualquer outro país da América Latina, mais perto que em qualquer país africano, mais rapidamente que em muitos países da Europa, porque cá estava Fidel, a consciência vigilante do nosso povo, o vigia que olhava para o longe, que viu na menor das possibilidades com Lenin, a perspectiva revolucionária a ser realizada e a fez com energia, com determinação, com dedicação completa». (Carlos Rafael Rodríguez, 90 razões).

«Fidel é principalmente um revolucionário, um homem que rejeita qualquer dogma, um homem que continuamente reinterpreta a realidade e acredita na capacidade do homem, no internacionalismo, na vocação redentora de todo revolucionário, isso é o que o aproxima dos melhores valores». (Eusebio Leal, reproduzido do Cubadebate).

«Fidel é um homem que merece respeito pela transformação que foi capaz de conceber e realizar. Ele é uma pessoa que entregou ao nosso país cada segundo de sua existência. Ele é um presidente estranho que não tem um único dólar em nenhum banco estrangeiro». (Silvio Rodríguez, reproduzido do livro Absuelto por la Historia).

«Ele não é local. Ele faz parte da história. Não só da nossa história, mas da história da humanidade. Eu acho que é tão grande que se torna uma pequena parte, uma coisa simples. Se ele sentisse o quão grande é, morreria por causa do peso». (Alicia Alonso, reproduzido do livro Absuelto por la Historia).

NA HISTÓRIA E NA LENDA

O que dizer daqueles que tiveram a oportunidade de entrevistá-lo, de ouvir de sua própria boca as anedotas incomensuráveis ​​de sua formação como revolucionário. Aqueles que, como Ignacio Ramonet, puderam compartilhar cem horas com Fidel e descobri-lo:

«(...) íntimo, quase tímido, bem educado e muito cavalheiresco, que presta interesse a cada interlocutor e fala com simplicidade, sem afetação. (...) Nunca ouvi ele dar uma ordem. Mas exerce autoridade absoluta em seu ambiente. Por sua personalidade esmagadora».

«Poucos homens conheceram a glória de entrar vivos na história e na lenda. Fidel é um deles».

Outra aresta muito especial de sua vida foi o respeito pelas mulheres, às quais ele sempre teve em um lugar privilegiado dos ideais de equidade e justiça social que promulgou. Ele reconheceu que, sem o apoio feminino, a consolidação do processo revolucionário seria impossível. Vilma Espin, parceira na luta não só antes, mas também após a vitória, e presidenta inesquecível da Federação das Mulheres Cubanas, sabia definir o que para as mulheres nascidas nesta Ilha significava o Comandante.

«Queremos muito a Fidel e ele quer e estima as mulheres em todo seu valor, confia em nós, encoraja-nos a subir a posições de topo na vida de nosso país, para conquistar a grande reivindicação histórica da igualdade entre os homens e as mulheres; encoraja-nos a buscar os meios necessários para alcançar a identidade entre a teoria e a prática social, entre a igualdade proclamada pelas nossas leis e princípios revolucionários e a realidade cotidiana, e contribui com as convicções de suas ideias, para que toda nossa sociedade vai compreendendo gradualmente a necessidade de travar a batalha pelo pleno exercício da igualdade das mulheres». (Extraído do livroAbsuelto por la Historia).

UM HOMEM DE ILUSÕES INSACIÁVEIS

Qualquer um poderia pensar que apenas a batalha constante iniciada no Moncada daria a Fidel a amizade imperecível e incorruptível de grandes seres humanos. No entanto, sua própria peregrinação por este mundo levou-o a encontrar-se com pessoas de alto nível que, das mais diversas origens sociais, o admiravam e compartilhavam sentimentos afetuosos de afeição por ele. Um desses grandes amigos era, sem dúvida, Gabriel García Márquez, cuja definição do líder cubano é tão excepcional como a prosa que o tornou um dos mais renomados escritores de todos os tempos.

«(...) um homem de hábitos austeros e ilusões insaciáveis, com uma educação formal antiquada, de palavras cautelosas e modos subjugados e incapaz de conceber qualquer idéia que não seja descomunal».

Esse gênio da arquitetura que foi Oscar Niemeyer, em diálogo com Luis Báez, disse:

«Tenho uma grande admiração por Fidel. Eu simpatizo com ele nessa luta, que ele soube começar e que, certamente, terminará vitorioso. À tarde recebo amigos para conversar e às vezes falamos de filosofia. Mas quando se referem a Platão, estou pensando em Fidel Castro».

Ou o humilde tricampeão olímpico Teófilo Stevenson, para quem Fidel sempre reservou um carinho especial que era recíproco na estrela do boxe:

«Eles me ofereceram milhões de dólares para saltar para o boxe profissional, mas eu não mudaria meu pequeno pedaço de Cuba ou Fidel por todo o ouro do mundo».

Nos últimos dias, o mundo prestou homenagem a outra figura que não pode faltar na história das lutas de libertação da humanidade, o ícone do confronto com o apartheid na África, Nelson Mandela. Outro irmão da Revolução Cubana, outro companheiro de Fidel nessa luta que rompe as fronteiras de um país para se concentrar no bem maior, o de toda a humanidade. Mandela também falou do eterno assaltante da história:

«Nós ficamos na prisão por quase 30 anos, e esse tempo pareceu-nos extraordinariamente curto, porque sabíamos que tínhamos bons amigos em quase todas as partes do mundo, e um desses amigos que tem sido muito convincente e cuja voz tem sido muito clara, tem sido o companheiro Fidel Castro. Nunca duvidamos que nele e em Cuba temos um amigo em quem podemos confiar».

Infinitas são as interpretações que, a partir do amor, respeito e admiração, falam sobre uma vida única, e indispensável para entender a história de Cuba e do mundo como foi a de Fidel Castro. Das maiores personalidades ao mais humilde dos seres humanos que acreditem «na melhoria humana e na utilidade da virtude», certamente também acreditam em Fidel.

Noventa e dois anos depois de seu nascimento é um prazer revisitar cada momento que ele nos mostrou, primeiramente com o exemplo pessoal, que nada é impossível quando um povo unido e incansável se propõe algo. Antes com sua presença física, agora com a presença intangível, porém mais real do que nunca de suas ideias, temos que continuar interpretando os desafios de hoje e de amanhã.

Seu legado está seguro conosco. Neste e em cada um dos seus aniversários por vir, prevalecerá o pensamento de continuidade, que sempre foi o único prêmio a que ele aspirou.

«(...) pensemos em Fidel, em suas ideias, em seu legado imponente, fecundo e imprescindível, como forma de alimentar aquele sentimento genuíno de perpetuar sua presença entre nós para sempre.

«Que cada fibra de nossa alma revolucionária vibre quando proclamarmos: ‘Eu sou Fidel’!" (Miguel Díaz-Canel Bermúdez, presidente da República de Cuba).