Fidel teme impacto da crise em avanços da AL, diz sociólogo

27/03/2009 23:01

 

Personagem de um dos últimos artigos do ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, o sociólogo argentino Atílio Borón revelou detalhes de seu encontro com o líder cubano, em Havana, no último sábado. Disse que o ex-presidente está "preocupado" com os efeitos da crise na região e teme um retrocesso à direita na América Latina. Borón informou que Fidel está bem de saúde e se exercita regularmente.

O encontro entre os dois durou uma hora e 40 minutos, revelou Borón ao jornal argentino Clarín. A conversa entre ambos resultou em um texto escrito por Fidel, no qual reproduz e elogia as avaliações do argentino sobre a crise.

O sociólogo contou que o líder cubano teme que os impactos da turbulência na economia prejudiquem os governos à esquerda na América Latina, abrindo brecha para forças mais conservadoras nas próximas eleições. "Ele pensa que o processo de deslocamento em direção à esquerda dos últimos anos estará comprometido. Fidel é muito bom leitor da conjuntura e teme que venha um refluxo de direita", disse.

Além disso, Fidel "acredita que estão colocando muitos obstáculos para o presidente [do Paraguai Fernando] Lugo", acrescentou o argentino.

Sobre os Estados Unidos, Borón disse que Fidel "sente uma certa simpatia por [Barack] Obama, mas não se ilude. Para ele, Obama vai descobrir rapidamente que a presidência é uma coisa e o império é outra. E que as leis do império vão fazer enorme pressão sobre ele".

O sociólogo argentino, professor da Universidade de Buenos Aires, revelou que o ex-presidente, de 82 anos, está em boas condições de saúde e pratica natação em uma piscina na própria casa.

"Pensei que poderia me encontrar com uma pessoa enfraquecida. Mas o que encontrei foi o contrário", disse Borón, que admitiu ter ficado surpreso com o "aperto de mão" de Fidel.

Segundo o argentino, o ex-presidente, que o recebeu vestindo o já tradicional "uniforme esportivo" com as cores de Cuba, está "sendo muito disciplinado nos exercícios para sua recuperação".

Borón contou que Fidel está relendo a obra de Charles Darwin e mantém pouco contato com funcionários do governo. Segundo ele, Fidel desmentiu especulações sobre uma suposta de disputa de poder na cúpula do governo, depois das mudanças, no início deste mês, de altos funcionários de Cuba, como o chanceler Felipe Pérez Roque e o vice-presidente Carlos Lage.

O argentino revelou ainda que, há algumas semanas, Fidel "saiu para caminhar pelas imediações" de sua residência "sozinho e sem escolta", para comprar um jornal "como qualquer cubano".

"Quando uma mulher percebeu a presença [do ex-presidente], um pequeno tsunami emocional urbano começou em um bairro da ilha", contou.

Com informações da Ansa