Direita brasileira é enxotada da manifestação pró-Cuba

21/05/2010 19:55

A direita brasileira escolheu o dia 20 de Maio, esta quinta-feira, para fazer uma manifestação contrária ao regime de Cuba, mas foram surpreendidos com uma manifestação favorável a ilha. Os cinco manifestantes de direita, liderados pelo deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), foram enxotados pela dezenas de manifestadores que foram prestar solidariedade à Cuba.

Para isso contaram com a ajuda de policiais militares que impediram os atos de agressão ensaiados pelos “ianques”, como foram chamados pelos manifestantes: “Fora ianques”. Eles ainda insistiram nas provocações, passando de carro em frente à Embaixada de Cuba em Brasília, onde se realizava o ato.

Após o encerramento do evento, que durou duas horas de discursos, gritos de palavras de ordem e agitação de bandeiras e exibição de faixas, os manifestantes foram recebidos pelo embaixador cubano, Carlos Zamora, nos jardins da embaixada. Ele quis agradecer pessoalmente ao que considerou “ demonstração de carinho e solidariedade para com a revolução cubana e o que ela significa para todo o mundo.”

A exemplo dos manifestantes, Zamora encerrou sua fala com as palavras de ordem: “A luta de Cuba é a luta do povo”; “Liberdade para os cinco”, “Abaixo o imperialismo”; “Viva José Martí”, “Viva Fidel Castro”. E foi acompanhado ainda nas palavras de “vivas” à “Eterna amizade do povo de Cuba e do povo do Brasil”, encerrando com “Patria ou Muerte”.

Vaias e vivas

Na chegada do grupo de Aleluia, que carregava fotos de presos em Cuba, o vice-presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), Paulo Guimarães, que estava discursando no carro de som, calou-se para acompanhar a movimentação de chegada e retirada deles, que durou poucos minutos. E depois comemorou: “Foram embora com o rabo entre as pernas, porque não tem inserção social, não tem apoio popular.”

“Vaias para eles e vivas para Cuba”, gritavam os manifestantes à saída do grupo de Aleluia.

Após a saída do grupo, os manifestantes se revezaram ao microfone para apresentarem palavras de apoio e solidariedade. Guimarães voltou a falar “para prestar solidariedade e apoio a esse povo que tem uma história que honra a humanidade. Esse ato demonstra a representatividade da luta do povo cubano que está centrada no entendimento e solidariedade”, disse.

Campanha midiática

Os manifestantes, a exemplo da coordenadora do Núcleo de Estudos de Cuba (NesCuba) da Universidade de Brasília (UnB), María Auxiliadora César, também se posicionaram contra a campanha midiática das grandes potências que tentam desacreditar a revolução cubana diante do mundo. “Cuba soube resistir porque tem um povo bravo e existem grupos no mundo inteiro que a apoiam, como esse que está aqui agora em Brasília.”

“Na base de mentiras e calúnias, transformam delinqüentes comuns em “presos políticos”, transformam mercenários pagos pelos cofres do Pentágono em “dissidentes”, premiam blogueiros vulgares como se fossem jornalistas e escritores. O centro desta campanha esta na Casa Branca, com o apoio de governos e parlamentares reacionários da União Européia. No Brasil, a campanha é protagonizada pela mídia conservadora e uma minoria de direitistas no Congresso Nacional”, diz o texto distribuído entre os manifestantes.

Graça Sousa, secretária de mulheres da CUT, disse que os movimentos sociais estão alertas para a ofensiva do capitalismo contra a revolução cubana que, a despeito do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, comemora 50 anos. E destacou as principais bandeiras de luta do regime cubano que conta com o apoio e solidariedade dos povos da América Latina: o fim do bloqueio, a devolução do território de Guantânamo e a libertação dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos.

Tilden Santiago, que foi embaixador de Cuba no primeiro Governo Lula, falou sobre a alegria de participar do ato, destacando que a mesma alegria devem sentir Fidel e Raul Castro ao tomar conhecimento de que o povo trabalhador brasileiro defende a revolução.

“A democracia avança na América Latina e avança a resistência dos cubanos que deram suor e sangue contra o imperialismo”, discursou, acrescentando que “se hoje nós temos governos à esquerda em toda a América Latina – Bolívia, Venezuela, Equador e no Brasil -, nós devemos a resistência permanente da revolução cubana, que é a vanguarda do sistema socialista na América Latina.”

“De pé, nunca de joelhos”

O ato contou com a participação de representantes de outros países e de cubanos. Tirso Sainz, da Associação Nacional de Cubanos Residentes no Brasil (ANCREB) agradeceu a presença dos brasileiros, bolivianos e equatorianos, destacando que “a revolução cubana tem em seu povo a principal força.”

O coordenador do MST da Bolívia, Silvestre Saisari, disse que a presença da Bolívia no ato em apoio à Cuba representa a confiança na luta dos trabalhadores para construir uma pátria livre. Ele encerrou suas palavras breves, como a maioria dos oradores, puxando palavras de ordem: “Cuba de pé, nunca de joelhos.”

A equatoriana Loyda Olivo, da Via Campesina internacional, lembrou, em sua fala que “quem está contra Cuba está contra a América Latina.” E teve as palavras reforças por Rosângela Piovizani, do movimento de mulher camponesas, que destacou: “Cuba é uma referência para nós e tudo que significa de país livre do imperialismo”. Ao final, ela animou o público com as palavras de ordem: “Globalizemos a luta”. Em resposta, os manifestantes diziam: “Globalizemos a esperança.”

Roseli Maria de Sousa, da Via Campesina Brasil, resumiu sua fala à condução de uma representação. Ela pediu que os manifestantes se voltassem para a frente da embaixada e para o reconhecimento da revolução socialista com gritos de “vivas” à Cuba, à população cubana e aos trabalhadores e trabalhadoras que combatem o imperialismo. “É a Via Campesina na luta em defesa do socialismo e contra o imperialismo”, afirmou.

Lutas antigas e atuais


O embaixador Zamora, sob o sol forte de meio-dia, conversou com os manifestantes ao final do ato. Ele reforçou as lutas atuais do povo cubano, como a recuperação do território de Guantânamo, que serve como um posto de tortura dos Estados Unidos e que é mantido pela força; o fim do bloqueio econômico, que condena o povo cubano a penúria e que persiste, apesar de ser considerado pelos tratados e a comunidade internacional como elementos de genocídio; e a libertação dos cinco heróis cubanos, que lutaram contra o terrorismo dos Estados Unidos em nosso território e que estão cumprindo pena nas prisões dos Estados Unidos - presos injustamente e sem julgamento.

Zamora destacou que estas questões são ignoradas pela mídia internacional, que se cala sobre elas e que, enquanto elas existirem, Cuba não pode manter relação adequada com os Estados Unidos e nem o mundo poderia.

O diplomata também lembrou que a data de maio é “cara” para o povo cubano, porque marca a morte do herói cubano José Martí, líder da guerra pela independência de Cuba.

Em 19 de maio de 1895, no comando de um pequeno contingente de patriotas cubanos, após um encontro inesperado com tropas espanholas nas proximidades do vilarejo de Dos Ríos, José Martí é atingido e vem a falecer em seguida. Seu corpo, mutilado pelos soldados espanhóis, é exibido à população e posteriormente sepultado na cidade de Santiago de Cuba, em 27 de maio do mesmo ano.“Um feito que nós cubanos levamos no coração”, disse o diplomata.

Sobre o dia 20 de maio, o diplomata disse que representa “um dia nefasto na história de Cuba”. Naquela data, "Cuba caiu nas garras do império norte-americano, que interveio na guerra contra a Espanha, ocupou militarmente a ilha e estabeleceu o que se conheceu pela primeira vez na história da humanidade como neocolonialismo.”

De Brasília

Márcia Xavier