Díaz-Canel: «Lutamos 150 anos e vamos continuar lutando até a vitória sempre»

14/10/2018 20:38
Photo: Estudio Revolución

(Tradução da versão estenográfica — Conselho de Estado)

Companheiro general-de-exército Raúl Castro Ruz, primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba;

Compatriotas:

Estamos novamente em La Demajagua, o lugar onde, com o maior acúmulo de sentimentos patrióticos, podemos dizer: somos Cuba.

Nós somos Cuba: vocês, nós, a história e esta paisagem formidável, que se parece com uma tela da nação, com o mar e a montanha no fundo e no centro, os ferros velhos da antiga usina açucareira abraçadas por um jagüey (árvore) poderoso.

Segundo a lenda, que é a versão poética da história, nenhum artista levantou esse monumento. Foi o trabalho da natureza.

Após a revolta, em um ato de impotência ridícula, as tropas espanholas queimaram o local; e o tempo passou, e passou pelo interior da roda do antigo moinho de cana o jagüey que perpetua o acontecimento.

É impossível chegar a este site e não ficar entusiasmado com tal mistério. Mais um entre os muitos que estão conosco desde que se começou a lutar por Cuba livre.

Hoje, pedimos permissão à história para entrar em um de seus recintos sagrados, para homenagear aqueles que nos deram a nação e aqueles que a resgataram depois, sem tomar mais do que sacrifícios.

É lindo e ao mesmo tempo sublime esse lugar, porque aqui Carlos Manuel de Céspedes levantou a alma de um povo recém-nascido contra a metrópole que o tiranizou por mais de três séculos e declarou livres e cidadãos todos os presentes, sem distinção de raça ou sexo, minando para sempre as bases podres de uma sociedade escrava e patriarcal.

É legítimo reverenciar o solo por onde cavalgaram juntos, sob uma chuva torrencial, o antigo dono e aqueles que até aquele dia foram seus escravos.

Aqui nasceu, há 150 anos, a Revolução Cubana e aqui, um século depois, Fidel marcou seu caráter único, desde 10 de outubro de 1868 até os dias atuais.

É também comovente pensar que este sino, que dobrou naquele dia glorioso para decretar pela primeira vez os mesmos direitos para todos em Cuba, em 1947 foi levado por um jovem estudante em suas mãos, para sacudir a consciência nacional, e esse mesmo jovem em 1968, já convertido no líder revolucionário Fidel Castro Ruz, deu-nos uma lição de história insuperável.

O 10 de outubro de 1968, no ensejo dos cem anos, é outro evento que vale a pena comemorar. Nesse dia, o nome de Carlos Manuel de Céspedes adquiriu significados mais profundos, como o Pai da Pátria.

Até então, a conhecida frase de que seus filhos eram todos os cubanos, recusando-se a entregar suas armas em troca da liberdade de seu filho Oscar, era a explicação da escola básica cubana para chamá-lo de pai.

Faltavam argumentos poderosos do significado para Cuba de seus primeiros atos libertários, um assunto que sempre foi debatido muito entre acadêmicos, mas não nos discursos por ocasião das efemérides ou nos livros escolares.

As reflexões de alguém apaixonado pela história como Fidel foram, naquele dia, mais do que um discurso, um convite sensível para revisitar com o coração e a mente definitivamente livres de velhas lições importadas e reducionistas, o curso dramático do processo iniciado cem anos antes, neste vale — tão perto do pantanal por onde ele próprio entraria novamente no país, em 1956, com a expedição destinada a salvar a Revolução frustrada pela intervenção estrangeira — e na proximidade das montanhas, onde a geração do Centenário lutaria novamente pela independência, com o mesmo empenho dos fundadores da nação.

Examinei muitas vezes as palavras de Fidel naquela noite solene e mal consegui identificar algumas frases que marcam sua transcendência histórica. Todas são transcendentes e conservam uma vigência que estremece, apesar de terem sido proferidas quando a maioria dos que aqui se reuniu hoje ainda não nasceu e nós éramos estudantes do primário.

Aqueles de mais idade certamente se lembrarão daquele dia, também chuvoso, segundo o próprio Fidel disse. E não duvido que todos saibam que foi aqui e então quando ele disse: «...em Cuba houve apenas uma só Revolução: a que Carlos Manuel de Céspedes iniciou em 10 de outubro de 1868. E que nosso povo continua nesses momentos».

Lembrar disso, no entanto, não é suficiente. Devemos convidar nossos filhos e netos, os estudantes de hoje, a desvendar o significado dessa frase com a qual começa a primeira análise política pública do capítulo mais transcendente da história nacional.

Vamos começar com a avaliação que fez das decisões de Céspedes. Fidel diz: «...a história de muitos movimentos revolucionários terminou, na sua imensa maioria, na prisão ou no cadafalso».

«É inquestionável que Céspedes teve a clara ideia de que esta insurreição não poderia esperar muito tempo e não poderia arriscar-se a passar pelo longo processo de uma organização perfeita, de um exército armado, de grandes quantidades de armas, para começar a luta...»

«...a história do nosso povo nestes cem anos confirma essa verdade axiomática: e é que, se para lutarmos primeiro devemos esperar e encontrar as condições ideais, ter todas as armas, assegurar as provisões, então a luta nunca teria começado...».

Dados os enormes desafios da atual Cuba, condenada pelo bloqueio dos Estados Unidos à escassez de recursos materiais que tornam a prosperidade aparentemente impossível, é imperativo retomar essa análise de Fidel em 1968.

Diante da realidade daquele primeiro dia de sermos cubanos, uma ideia que então era reduzida a poucas dezenas de homens, quase todos desarmados e encharcados pela chuva, revela o extraordinário poder de um ideal revolucionário. Em vez de esperar por tempos melhores, os rebeldes de La Demajagua estavam entusiasmados por fazer uma revolução que lhes custaria, a princípio, todo o capital que tinham, e até a própria vida.

Aqueles que veem sua sorte ou a do país através de seus bens materiais, dirão: «Eles perderam tudo». Somente aqueles que acreditam na Pátria entenderão a verdade: «Eles nos deram tudo. Até o que não tinham: a liberdade».

Desde então, sabemos que é possível vencer a partir de zero, às vezes sem outras armas além da moralidade e do patriotismo. E que da luta sob as piores circunstâncias vem a enorme quantidade de coragem e resistência que transformou o povo cubano no que somos: uma nação soberana, independente e orgulhosa de sua história, algo que continua sendo um sonho a ser conquistado por muitas nações da nossa região e do mundo.

A decisão de Céspedes de libertar os escravos, que não encontraria consenso entre todos os rebeldes até o ano seguinte, na Assembleia de Guaimaro, é outro ato, que em suas palavras de 1968, Fidel qualifica como radicalmente revolucionário.

Com isso, novamente Céspedes esteve à frente de seus contemporâneos e talvez fosse então e não depois, quando conquistou o título de pai de todos os cubanos.

Porque a nova nação não podia ignorar uma de suas grandes forças: os filhos de homens e mulheres, emigrantes africanos pela força do chicote e do poder colonial, cujos descendentes alcançariam as mais altas patentes militares na guerra pela independência e na dignidade do ser nacional, como Antonio Maceo provaria ao longo de sua vida exemplar, aquele que em Baraguá, segundo Fidel: «...salvou a bandeira, salvou a causa e colocou o espírito revolucionário do povo nascente de Cuba em seu nível mais alto...».

Somos Cuba, repetimos, invocando o mais bravo dos guerreiros, o mestiço, o filho de um leão e uma leoa, que não se contentou com ter as glórias do chefe mambí mais temido por seus adversários e encheu o livro de sua vida com páginas de tamanha dignidade que, quando as examinamos hoje, torna-se mais justa e necessária a exigência persistente do general-de-exército Raúl Castro Ruz, acerca de proteger e estimular aquele legado humanista de Céspedes que colocou o negro ao lado do homem branco e não para trás. Não ao seu serviço, mas como seu igual.

Chamou-os imediatamente de cidadãos, sem fazer distinções. Herdeira daquela primeira lei que, mesmo sem ser escrita, já dignificou o ser humano no meio do matagal, nossa Assembleia Nacional, poder supremo da nação, leva hoje e sempre deverá levar as cores que tornaram Cuba invencível. Negros, mulatos e mestiços são tão necessários para o país de nosso futuro quanto deram glória ao país de nosso passado de honra.

Compatriotas:

Na mesma data de hoje, quase 20 anos depois do levante de La Demajagua, em um ato com os emigrantes em Nova York, um José Martí, exaltado pelas emoções de uma plateia de patriotas cubanos, disse:

«Esta data, este entusiasmo religioso, a presença (...) daqueles que um dia como este abandonaram o bem-estar para obedecer à honra (...) aqueles que caíram na terra dando luz, como os heróis sempre caem, exigem dos lábios do homem tais palavras que quando não se pode falar com raios de sol, com os transportes da vitória, com a santa alegria dos exércitos da liberdade, a única linguagem digna deles é o silêncio. Eu não sei que haja palavras dignas desse momento».

Sente-se a necessidade de ficar em silêncio quando, ao ler, ouve-se José Martí. Se o dono das palavras considera que não há aquelas que merecem ser ditas, quem se atreveria a falar. Mas o próprio Apóstolo nos deixou neste discurso um guia para não ficar em silêncio, quando perguntou: «Por que estamos aqui? O que nos encoraja, mais do que a nossa gratidão, para reunirmo-nos para homenagear nossos pais?».

E a nossa geração responde: Se em 1968 foi a necessidade de analisar a história à luz dos conceitos marxistas, para colocar-lhe todos os louros que foram retirados pelos interventores, hoje essa mesma história está nos exigindo revisões e aprendizados, essenciais para o trânsito rumo a um novo estágio da mesma Revolução que não parou 150 anos depois.

Os dois anos 68 que nos precedem estão cheios de lições e, do primeiro ao outro, foi se moldando o país que hoje somos.

Fidel disse em 1968 que, se não entendermos o processo histórico da Revolução, «não saberemos nada sobre política». E nos convocou para conhecer e estudar a história. Por que, para quê? Poderiam perguntar os ingênuos ou aqueles que acreditam que as subjetividades não pesam sobre os destinos de um país. Bem, pelas mesmas razões que nossos adversários não estão pedindo virar a página e esquecer a história.

Porque eis as chaves de todas as nossas derrotas e fracassos, que foram e muito dolorosos, ao longo de 150 anos de lutas. Mas também lá estão as chaves da resistência e das vitórias.

A escola cubana, em todos seus graus e níveis, tem o dever indesculpável de estudar este capítulo da nossa história, através do discurso de Fidel em 1968; juntamente com outros dois discursos, inseparáveis daquele: o que proferiu em 13 de março de 1965, na escadaria da Universidade de Havana e o de 11 de maio de 1973, em Jimaguayú. Nesta magnífica tríade, digna do extraordinário intelectual e orador que a proferiu, pode-se beber, como em nenhuma outra fonte, o valor da unidade e compreender o sentido profundo da frase curta que escolhemos para nos identificar nas redes sociais e em outros espaços que a comunicação atual impõe: ‘Somos Cuba’.

Quando, em 10 de outubro de 1868, Carlos Manuel de Céspedes leu seu vibrante manifesto a «compatriotas e a todas as nações», ele está estabelecendo princípios invariáveis ​​que fazem da Revolução um fato único e contínuo:

«Cuba deseja ser uma nação grande e civilizada, para estender um braço amigo e um coração fraterno a todos os outros povos, e se a própria Espanha permitir que ela seja livre e calma, Cuba a abraçará como uma boa filha amante da mãe»; mas caso persistir em seu sistema de dominação e extermínio, ceifará todos os nossos pescoços e os pescoços daqueles que vierem atrás de nós, antes que possam fazer de Cuba, para sempre, um reles bando de escravos».

Vamos mudar nessas palavras o nome da Espanha pelo da potência contemporâneo que há 60 anos nos espreita, e vamos encontrar a solução e a posição invariável no destino escolhido. A Revolução é a mesma.

E os desafios são idênticos: um cerco imperial do lado de fora; uma vocação de anexação de alguns de dentro — daqueles que não acreditam que a Pátria pode se erguer com suas próprias forças — e como a única salvação: a unidade.

José Martí e Fidel viram e avisaram, cada um em seu tempo. Ambos aprenderam, da história anterior, que apenas a desunião foi possível contra a nação.

Atualmente, quando todos nós discutimos que roupa usar para o modelo de sociedade que devemos, é essencial pensar em Céspedes, nos homens e mulheres que se tornaram heróis ao seu lado e em tudo aquilo que frustrou seus sonhos, tão pertos dos nossos. O colapso da unidade sempre foi a causa das perdas e retrocessos.

Um século depois do nascimento de José Martí surgiu no horizonte histórico de Cuba a geração que reivindicaria sua nobre aspiração de reagrupar e unir os defensores da continuidade da Revolução. Falo da nossa geração histórica, uma vanguarda venerável que nunca se afastou de sua responsabilidade e compromisso com os humildes.

Hoje, aqui, os filhos mais novos da Nação ratificaram a mensagem às novas gerações que expressa nossa firme determinação de que não desistiremos, não trairemos e nunca nos vamos render.

Assumamos como nossas e como firme decisão de continuidade, as palavras de Fidel, em 10 de outubro de 1968: «Porque este povo, tal como lutou cem anos pelo seu destino, é capaz de lutar outros cem pelo mesmo destino».

Compatriotas:

Lutamos 150 anos e vamos continuar lutando até a vitória sempre.

Viva Cuba Libre! (Exclamações de: «Viva!»)

Glória eterna a Carlos Manuel de Céspedes! (Exclamações de: «Glória!»)

Viva o dia 10 de Outubro! (Exclamações de: «Viva!»)

Viva o heróico povo cubano e suas lutas seculares! (Exclamações de: «Viva!»)

Vivam Fidel e Raúl! (Exclamações de: «Vivam!»)

Socialismo ou Morte!

Pátria ou Morte!

Venceremos! (Ovação).