“Banir o imobilismo, os dogmas e as palavras de ordem vazias”

11/02/2014 02:31

No quadro das comemorações do 55º aniversário da Revolução Cubana, teve lugar na sexta-feira passada (10), em Havana, um ato político comemorativo da entrada de Fidel e seus comandados na capital. O ato foi presidido por Machado Ventura, segundo secretário do Partido Comunista e vice-presidente dos conselhos de Estado e de ministros. O orador foi Miguel Díaz-Canel , membro do Birô Político do Partido e primeiro vice-presidente dos conselhos de Estado e de ministros. Leia a íntegra.


 Miguel Díaz-Canel durante el acto por el 55 Aniversario

Miguel Díaz-Canel durante o ato. Foto: Ismael Francisco/Cubadebate.

O acontecimento mais transcendental para nosso povo nestes últimos cinquenta e cinco anos é o triunfo revolucionário de primeiro de janeiro de 1959. Em cada nova comemoração se vive uma transbordante alegria e homenagem ao fato em si e de agradecimento entranhável à geração que concebeu, realizou e protagonizou a epopeia.

Com a entrada entusiasta de pioneiros e jovens destacados, junto a históricos participantes da caravana, que reeditaram o percurso da Caravana da Liberdade desde Santiago de Cuba até Havana, imagino quantas recordações passam pelas mentes de muitos dos presentes e percebo a honra que a juventude cubana sente ao reviver aquela história.

Corriam os primeiros dias de janeiro de 1959 quando os cubanos viveram as emotivas horas que se seguiram o anúncio da derrocada da sangrenta ditadura. As ruas de Havana se engalanavam com a bandeira nacional. Durante o trajeto, o povo delirava de entusiasmo e aclamava aqueles valentes homens de verde-oliva, barbas e cabelos cacheados. A recordação inapagável dessas jornadas ficou expressa pelo Índio Nabori no antológico poema, ao dizer: “Jovens barbudos, rebeldes diamantes, / com uniformes verde-oliva vêm dos outeiros, / e por sua doçura, os heróis triunfantes/ parecem armadas e bravas pombas”. (Foto: Che Guevara junto a Fidel Castro e Camilo-Cienfuegos)

Neste mesmo lugar, a antiga fortaleza de Columbia, hoje Cidade Escolar Liberdade, quartel convertido em bela escola, que já graduou desde 1960 mais de 184 mil estudantes de diferentes níveis de ensino, em 8 de janeiro de 1959, em meio a uma enorme multidão, na tarde histórica em que a liberdade se converteu em fato, e para simbolizá-lo uma pomba branca pousou no ombro de quem dirigiu a luta, em memorável discurso do qual se recorda, sempre sua repetida pergunta - “Estou indo bem, Camilo?” - , o Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz expressou sua profética frase: “Creio que este é um momento decisivo de nossa história: a tirania foi derrocada. A alegria é imensa. E, contudo, ainda há muito a fazer. Não nos enganamos crendo que daqui para a frente tudo será fácil; talvez, tudo será mais difícil”.

E assim tem sido, sempre enfrentando, superando e vencendo adversidades, limitações, planos de desestabilização, conspirações para atentar contra Fidel e outros dirigentes, injusto bloqueio e calunioso cerco midiático que não cessaram em 55 anos. Nosso povo pagou um alto preço em vidas e privações por causa da implacável agressividade imperial. Mas não puderam dividir-nos nem derrotar-nos. Nem foram capazes, apesar do enorme poder dos meios de comunicação a seu serviço, de silenciar o exemplo de Cuba.

Que crimes cometemos para merecer esse contínuo fustigamento? Liquidar o analfabetismo, converter os quartéis em escolas e implantar o ensino gratuito em todos os níveis; atender o campesinato, o setor da população historicamente mais esquecido; oferecer acesso universal, sem custo algum, aos serviços médicos e elevar os indicadores de saúde e esperança de vida aos níveis dos países desenvolvidos; pôr ao alcance de todos a cultura, a ciência e o esporte; recuperar o patrimônio da nação que estava em mãos das corporações estrangeiras; distribuir a terra; trabalhar pela igualdade, pela genuína democracia, para tirar a nação do atoleiro em que a haviam afundado o capitalismo e a dependência.

Há 55 anos deixamos de ser una obscura colônia dos Estados Unidos. Nós, cubanos, resgatamos nossa dignidade plena em janeiro de 1959. O nome de Cuba, relacionado até então com uma imagem degradada e caricatural, se instalou de um modo novo no mapa do mundo. Transformou-se em um símbolo de heroísmo, de independência, de decoro e de humanismo.

O triunfo da Revolução que chegou à capital naquele 8 de janeiro com a Caravana da Liberdade, é o acontecimento que marcou as nossas vidas. Já chegou aos 55 anos com uma obra madura, consolidada e que se renova, com a peculiaridade de ser a única das revoluções que completa essa idade com sua direção histórica viva e à frente, razão mais do que suficiente para convocar-nos à mais sentida e alegre das homenagens, conscientes de que há sobejos motivos para sentir-nos legitimamente orgulhosos e rememorar estes fatos.

A significação histórica da Revolução Cubana foi amplamente argumentada pelo General de Exército Raúl Castro Ruz no discurso pronunciado em 1º de janeiro último em Santiago de Cuba. Compartilhamos essas reflexões que destacam a obra e afirmam que nos momentos mais difíceis o povo cubano não se rendeu, confiou na direção revolucionária, deu mostras excepcionais de firmeza e legou lições cotidianas de heroísmo e espírito de sacrifício. Esta capacidade de resistência alcançaria mais tarde uma relevância particular quando em nossa América começou a conformar-se um bloco progressista que pôde contar com as contribuições solidárias da Revolução Cubana.

Assumiu-se o exercício da solidariedade como um dos valores básicos mais entranháveis que nos guiam. O grande Nelson Mandela, a quem rendemos homenagem póstuma há poucos dias, reconheceu, com emotivas palavras, o desprendimento dos cubanos que viajaram à África e seu papel na independência de Angola e da Namíbia e no fim do apartheid. Se depois de Girón, como assinalou Fidel, os povos da América se tornaram mais livres, pode-se dizer que os povos da África também ficaram mais livres depois de Cuito Cuanavale.

Precisamente por toda a obra da Revolução, que transcende as fronteiras de Cuba, o imperialismo não suaviza em seus propósitos de destruí-la. Em Santiago, em 1º de janeiro último, o General de Exército Raúl Castro Ruz, em histórico e memorável discurso alertava, referindo-se à permanente campanha de subversão político-ideológica: “Em nosso caso, como ocorre em várias regiões do mundo, percebem-se intentos de introduzir sutilmente plataformas de pensamento neoliberal e de restauração do capitalismo neocolonial, voltadas contra as essências mesmas da Revolução Socialista… “.

Suas palavras são uma convocação à reflexão e à ação. Como apontou nosso presidente, a Revolução dispõe de forças para sairmos vitoriosos na batalha. Para conseguir isso, devemos cumprir os objetivos aprovados na Primeira Conferência Nacional do Partido com a mesma paixão e sistemática com que foram seguidos os Lineamentos da política econômica e social referendados pelo Sexto Congresso.

Nesse sentido, desde o Partido, em cada lugar em que atuamos, devemos cultivar a relação incessante e despojada de formalismos com as massas; banir o imobilismo, os dogmas e as palavras de ordem vazias; conjugar a sensibilidade política com a intransigência diante das violações e da defesa da institucionalidade, em um ambiente de ordem, disciplina y exigência.

Nossos intelectuais, que em abril do ano passado realizaram o Congresso da UNEAC, têm nas palavras de Raúl um estímulo adicional para atualizar e defender a política cultural da Revolução, consolidar a pertinência das instituições do setor, contribuir com uma visão crítica e revolucionária para a análise coletiva a fim de traçar um programa de ideias e de conceitos que se contraponham ao bombardeio nocivo de concepções niilistas, supostamente desideologizadas, com as quais pretendem desarmar nossa sociedade. A cultura é e há de continuar sendo a espada e o escudo da nação ante o império.

Igualmente as universidades e os centros de pesquisas sociais são produtores de ideias e cultura, cenário por excelência para discutir e refletir sobre os grandes problemas da sociedade. Devem conceituar os processos que vive a nação, em particular trabalhar na fundamentação teórica de nosso modelo socioeconômico. Têm um papel insubstituível na difusão das ideias marxistas, leninistas e martianas, que não à toa são motivo de crítica e tergiversação permanentes por parte dos arautos das piores causas. Devemos estimular o debate ideológico e a polêmica, a capacidade de análise crítica, comprometida e revolucionária, o conhecimento e o respeito da história, que é a base da cultura política do cidadão.

Em sua estratégia subversiva contra Cuba, o imperialismo tem entre seus objetivos prioritários os jovens, em particular os estudantes. Aposta na falta de experiência de vida e na rebeldia inata da juventude. Sonha com introduzir uma cunha entre as diferentes gerações que levam adiante a Revolução. Sabemos disso e não estamos de braços cruzados: a direção do Partido dedica a este tema estratégico uma atenção especial. Isto exige igualmente um trabalho deliberado da União dos Jovens Comunistas e das organizações estudantis. Aproveito para recordar que recentemente se realizaram os congressos da FEU e da Associação Irmãos Saíz, cujas proveitosas resoluções são objeto de um acompanhamento sistemático.

Por outro lado, estamos obrigados a aperfeiçoar os canais de comunicação em nossa sociedade. Os Organismos da Administração Central do Estado e os Conselhos de Administração têm uma cota de responsabilidade na existência de dúvidas, incompreensões ou falta de informação sobre as políticas aprovadas, as normas jurídicas que estão sendo estabelecidas ou as decisões que são tomadas pontualmente. Outra parte de responsabilidade corresponde aos meios de comunicação de massa aos quais ainda falta muito para ser uma plataforma de debate dos problemas cotidianos do país. Não podemos esquecer que a não atenção às queixas e preocupações da população, assim como a existência de vazios informativos, autocensura e segredo inútil, são terreno fértil para os que pretendem destruir-nos.

Em resumo, o melhor antídoto contra os intentos de subversão do inimigo é fazer as coisas bem feitas em cada lugar. É a isso, em essência, que nos convocou o General de Exército em 7 de julho do ano passado, quando nos chamou a fazer uma batalha frontal contra a corrupção, o delito, as ilegalidades e as indisciplinas sociais. É que os assuntos abordados em ambas as intervenções de nosso Primeiro Secretário estão intimamente vinculados.

A ação coerente e certeira, até as últimas consequências, tem que ser encabeçada pelo Partido, coesionando a sociedade em seu conjunto. Que ninguém tenha dúvidas: não vamos relaxar nesse empenho.

Companheiras e companheiros:

Realizamos este ato na imponente Havana, capital orgulhosa de todos os cubanos, onde nasceu José Martí.

Esta é a cidade que recebeu hoje a Caravana da Liberdade, e que dentro de algumas semanas será sede da Segunda Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos.

A Cuba revolucionária, que foi expulsa da OEA sob as pressões dos Estados Unidos, ocupa hoje a Presidência temporária de uma organização que era impensável há 55 anos: a Celac. No presente colaboramos na construção de uma nova unidade latino-americana e caribenha, concebida dentro da mais ampla diversidade, e inspirada sem dúvida nos sonhos de Bolívar e Martí, de Fidel e Chávez.

Este é o país, ao qual chegarão os representantes dos demais 32 estados de Nossa América.

Sem triunfalismo, mas com uma análise justa e objetiva, é inegável o que foi conquistado em 55 anos como nação soberana: um país verdadeiramente independente, com um povo livre, instruído, consciente, solidário e valente.

Cumpriram-se as promessas de Moncada, prevalece a verdade sobre a mentira, aprendemos a ler para então crer e fazer. São realidades e direitos conquistados: educação, saúde, cultura, esportes, seguridade social, inclusão, igualdade, participação, poder popular, democracia, unidade, justiça e internacionalismo. É a obra de um povo heroico que enfrentou os maiores perigos e suportou dolorosos sacrifícios sem perder a alegria, a confiança, a fé e a esperança.

Temos desacertos e insatisfações. Somos os primeiros a reconhecer. Há uma economia bloqueada que devemos emendar e potenciar, mas que — e dizer isto é fazer justiça — tem sustentado o social. Atualizaremos nosso modelo, o conceituaremos, enfrentaremos a subversão, continuaremos crescendo desde nossa história e cultura e aperfeiçoaremos nosso socialismo, que será mais próspero e sustentável.

Temos um sadio orgulho pelo que foi conquistado e prestamos uma permanente homenagem aos que abriram o caminho quando parecia impossível: a Fidel e Raúl, Camilo, Che e Almeida, aos comandantes da Revolução e do Exército Rebelde, aos combatentes da planície e da Sierra Maestra, a Frank, Vilma, Célia, Haydée, Melba e às Marianas. Elas e eles arriscaram muitas vezes e ofereceram suas vidas, em permanente exemplo para as nossas gerações, os que chegamos depois.

É justo reconhecer também aos heroicos combatentes internacionalistas; a nossos Cinco Herois, aos que nascidos depois da Revolução, assumiram dignamente desafios e sacrifícios, em tempos de bonança e em meio ao período especial; e aos mais jovens, esses que também compreenderam que a Pátria é terra arada e não pedestal.

Este momento é decisivo para nossa história, para os cubanos dignos que acompanhamos a geração histórica na realização de novos sonhos e maiores aspirações. Nós continuaremos adiante, conscientes da força que emana da unidade e da fé na justeza revolucionaria!

Diante dos novos desafios, obteremos novas vitórias.

Pátria ou Morte, venceremos!

Fonte: Granma
Tradução de José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho