Alarcón: "Presos cubanos não são dissidentes, são criminosos"

21/07/2010 00:08

Cuba garante que liberará todos os 52 presos políticos que prometeu, mas reitera que "não os dissidentes são criminosos". Em entrevista ao Estado de S.Paulo, o presidente da assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón, ataca os EUA e torce para que o Brasil tenha "sua primeira mulher presidente", em referência à candidata Dilma Rousseff.

Alarcón é presidente da Assembleia Nacional de Cuba desde 1993. Aos 73 anos, é considerado uma das mais importantes figuras da diplomacia cubana, tendo ocupado diversos postos diplomáticos desde a revolução de 1959, incluindo o de chanceler, em 1992. Durante 12 anos, foi representante do país na ONU, em Nova York, e tornou-se o principal acessor do governo nas relações com os Estados Unidos. Veja abaixo a entrevista


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O Estado de S.Paulo: Cuba cumprirá a promessa de liberar todos os 52 presos?

Ricardo Alarcón: Todos serão libertados, sem exceção, nas próximas semanas.


O Estado de S.Paulo: Por que Cuba libertou esses dissidentes?

Ricardo Alarcón: Não são dissidentes. São pessoas culpadas por crimes e por trabalharem para potências estrangeiras que querem destruir nosso país. Isto é crime em qualquer país do mundo, com pena de prisão e até de morte.


O Estado de S.Paulo: Para onde irão os presos que ainda estão em Cuba?

Ricardo Alarcón: Veremos. Mas serão libertados.


O Estado de S.Paulo: Existe a possibilidade de alguns ficarem em Cuba?

Ricardo Alarcón: Acho difícil que todos fiquem. Estamos procurando um lugar no exterior para resolver a situação. Eles precisam de visto e é nisso que trabalhamos agora.


O Estado de S.Paulo: Há alguma negociação similar com o Brasil para recebê-los?

Ricardo Alarcón: Pelo que sei, não existe nada.


O Estado de S.Paulo: A liberação foi acompanhada de perto pela Casa Branca. Como o sr. avalia a política do presidente dos EUA, Barack Obama, em relação a Cuba?

Ricardo Alarcón: Obama é apenas mais do mesmo. Tem uma linguagem mais comedida, um estilo mais calmo, mas sua política externa, no fundo, é a mesma que existia antes. No entanto, a América Latina já tomou o caminho irreversível da luta por sua independência efetiva. Há muitos desafios ainda, mas a região está no caminho certo. Estamos vivendo uma época de mudanças que não pode mais ser sabotada.


O Estado de S.Paulo: O Brasil terá eleições este ano. Como o sr. avalia a possibilidade de mudança de governo em Brasília?

Ricardo Alarcón: Seria muito bom que o Brasil tivesse sua primeira mulher presidente. Isto garantiria a continuidade da obra começada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que colocou o Brasil em um lugar de destaque no cenário internacional.


Fonte: O Estado de São Paulo