Cuba: Mais de um milhão participaram de show pela paz

25/09/2009 01:55

Sob o olhar firme de uma imagem de Che Guevara que enfeita a fachada de um ministério, mais de um milhão de pessoas, a maioria vestida de branco, ocupou, neste domingo (20), a Praça da Revolução, em Havana, para participar de um concerto pela paz. O evento foi encabeçado pelo artista colombiano Juanes - que chegou a ser ameaçado pelos anticastristas de Miami. O espetáculo "Paz sem fronteiras" teve como objetivo justamente promover uma aproximação entre os Estados Unidos e Cuba.

"É tempo de mudar. Transformar o ódio em amor", disse Juanes convidando a um tempo em que haverá "uma só família cubana" 

A iniciativa foi transmitida por várias emissoras de TV dos Estados Unidos, Europa e América Latina. "Aos jovens de Miami e de todo o mundo: podemos pensar diferente, mas, aqui, estamos pela paz. Deixemos o ódio de lado", disse Juanes, externando o desejo de promover o mesmo show em Miami. "Queremos que, com o tempo, as coisas mudem e a família cubana seja apenas uma. E a melhor linguagem para chamar a atenção para isso é a da música e a da paz", completou o cantor.

A quantidade de gente surpreendeu os próprios organizadores. A multidão - que superou o público da missa de João Paulo II, em 1998, assistida por 800 mil pessoas - se amontoou desde cedo perto do gigantesco palco, desafiando um calor de mais de 30º C.

O show foi a segunda edição do evento pela paz. O primeiro foi organizado no ano passado na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela. "Não posso acreditar no que meus olhos estão vendo, é o sonho mais bonito de paz e amor que pude experimentar depois dos meus filhos", disse Juanes ao entrar no palco.

Desde que anunciou a intenção de promover o concerto em Cuba, Juanes suscitou a ira de muitos exilados cubanos em Miami, feudo do anticastrismo, onde mora com a sua família. Vítima da intransigência, o cantor recebeu ameaças de morte, e seus discos foram quebrados a golpes de martelo.

Ontem, a expectativa para o concerto era tanta que até o presidente dos EUA, Barack Obama, falou sobre o tema. Ele elogiou a iniciativa, mas respondeu que não se deveria dar uma dimensão exagerada ao efeito de espetáculos como o de ontem e da diplomacia cultural com Cuba para a retomada das relações entre os dois países. "Não acredito que esse tipo de evento prejudique as relações Estados Unidos-Cuba", disse Obama. Já o dirigente venezuelano Hugo Chávez não poupou elogios ao evento, que qualificou de "maravilhoso".


Além de Juanes - que escreveu a música "Cubano Soy” especialmente para o evento, em "homenagem aos cubanos de dentro e de fora de Cuba" - , outros 13 cantores populares de língua espanhola se apresentaram. Participaram artistas como o espanhol Miguel Bosé, o italiano Jovanotti e as bandas Orishas e Van Van. A diva portorriquenha Olga Tañon chegou a qualificar a festa como "o concerto do século", lembrando que os artistas ali presentes estavam "fazendo história".

A iniciativa, que aconteceu na véspera do Dia Internacional da Paz - proclamado pela ONU como momento de " comemorar e fortalecer os ideais de paz em cada nação e cada povo e entre eles" -, durou cinco horas, prendendo a atenção da multidão que se espremia na praça - a maioria, jovens que tiveram sua primeira experiência desta magnitude. Seria o "Woodstock" de alguns, disse o jornal La Jornada.

"Juanes nos devolveu a dignidade", disse à EFE Rosário, professora cubana que assistiu ao show com seus três filhos adolescentes. Para Damian Estévez, 51 anos, nunca houve um espetáculo tão grande em Cuba. ''A Praça parecia um animal vivo", afirmou. Era possível ver várias bandeiras cubanas e de outros países latino-americanos, como México, Venezuela, Porto Rico e Chile

Sem longos discursos, mas com muita música, "Paz sem Fronteira" sugeriu mudar as bases de uma relação há muito conflituosa e cercada por instransigências. O colombiano repetiu até não poder mais a palavra "paz", e no final do espetáculo quis deixar claro que trazia a mensagem de reconciliação entre cubanos de dentro e fora da ilha, ao cantar "Arriba La Habana, arriba Cuba, arriba Estados Unidos, Miami, Nueva York y Washington".

"É um grão de areia a mais na tentativa de melhorar as relações entre EUA e Cuba por meio da arte. Vencemos o medo. Esperamos que também o possam vencer os jovens daqui e os de Miami", disse Juanes, mandando um recado: "É tempo de mudar".

Com agências